
Conto premiado como Primeiro Lugar no Concurso Cultural do II Congresso da SAMMG
Tivéssemos filhos, essa
seria, numa analogia cômica, a estória ''how I met your mother'' que lhes contaria.
De todo modo, ainda que não os tenha, é certo que os teremos, muitos e muitos,
num futuro breve, que vivo a primar. Por agora, no entanto, já me contenta
namorá-la, e é desse relacionamento que conto aqui:
A conheci desde há muito, ainda na minha tenra infância.
Poderia cá mentir que me lembro exatamente desse primeiro encontro, na intenção
piegas de sugerir ‘’amor a primeira vista’’, mas realmente me escapa a memória
daquele cérebro imielinizado. Apesar disso, conta minha vó que aos 3 anos já eu
brincara muito com ela, na mágica fantasia de criança.
Passada essa fase, a vida ocupou-se de nos afastar.
Talvez a minha rebeldia impensada dos tempos turbulentos da adolescência a
tenha assustado. Mas, que coisa, como mulher de vagabundo, ela relutara em
ficar comigo, regressando meiga para me cativar. Hoje posso dizer que foi
justamente ela quem soube me dar jeito na vida. E nessa vida a dois, passamos
pelas mesmas fases interrelacionais por que passam os casais típicos.
Primeiro a paixão. Nos entregamos sofregamente, virando
noites e noites. Por esse calor febril também brigamos, como brigamos. E isso
porque eu, num afã desesperado e possessivo a queria imediatamente para mim, ao
que ela, íntegra e segura de si, recusava. Dizia que não, que as coisas não
eram bem assim. E nisso me enrolara dois anos, relutando a ceder aos meus
pedidos de namoro, namoro esse de que eu ainda não tinha dimensão e tomava
apenas por praxe. De certo, na sua cabeça de mulher, ela estava a me esperar
amadurecer, como aquelas meninas do colegial que, crescendo mais rápido,
observam desdenhosas os bobos meninos por quem mais tarde viriam a se enamorar.
E ela, claro, não podia estar mais certa. Bastou chegar o
momento adequado, o momento detalhadamente engendrado pela natureza, para que
tudo acontecesse: sem mais nem menos, eu nem mesmo a esperava mais, ela volta
correndo aos meus braços dizendo que, sim, ela me namorava! Que, sim, ela
também gostava muito de mim! Como fui feliz nesse átimo de momento. Teve noites
que sonhei mesmo não acreditar em tal realidade.
Mas felizmente ela era real. Tão vívida que, por outro
lado, também me trouxera logo a seguinte preocupação: minha namorada é tão
perfeita, será que estarei a sua altura? Será que lhe sou o bastante? Nesse
ensimesmar desperdiçado passei um bocado de tempo. Tempo esse em ela,
novamente, veio ao meu socorro, como a mulher que é também um pouco mãe de seu
homem. E nesse ponto, ela levantara meu rosto, então cabisbaixo de baixa autoestima,
e me fizera olhar para ela. Olhara-me fundo, de um olhar sereno, pacífico. Não
me dissera nada. Apenas pegou minha mão e me levou contigo para o mundo, para
me ensinar a amar. Eu que nunca soubera ao certo o que é amar, agora amo,
sobretudo, ela.
Ela que mais me entende, que mais está comigo. Eu
levanto, ela me dá bom dia. Eu me deito, ela zela meu sono. E nesse cuidar um
do outro, estamos hoje numa fase próxima de nosso relacionamento. Não mais a
paixão arrebatadora, que muitas vezes mais destrói que constrói. Não mais o
''eu te amo'' que não é amor.....Amor é cuidado, é cumplicidade, é amizade, é
carinho. É, sobretudo, dedicação. A dedicação desinteressada e genuína que sabe
se preocupar com cônjuge tanto ou mais que consigo, na certeza de que só se
está bem quando os dois estão.
E,
enfim, temos tudo isso. E, por isso, sei que ela é a mulher da minha vida.
Sonho, pois, no dia em que nos casaremos e, então, multiplicaremos filhos por
esse Brasil afora, no ato de medicar que é também reproduzir amor. Para minha querida e amada, Medicina